A crise que dominou a economia nos últimos três anos desorganizou a vida financeira de milhões de brasileiros. Trabalhadores desempregados, por exemplo, que passaram a atrasar pagamentos ou que, simplesmente, pararam de pagar. Mas uma mudança na legislação permitiu aos condomínios cobrar essas dívidas na Justiça com mais rapidez e o número de ações disparou.
“Se trata hoje de um débito pendente há mais de 90 dias, tá?”, disse a telefonista.
Se você está com o pagamento do condomínio atrasado, vai receber essa ligação. Se é que já não recebeu. Escritórios de advocacia contratados por condomínios estão sendo cada vez mais acionados para cobrar as dívidas. E, agora, com um forte aliado para fazer pressão. Até março de 2016, para um condomínio executar na Justiça o proprietário de um imóvel que estava em atraso, levava até quatro anos. Só depois disso o condomínio podia pedir a penhora dos bens daquele proprietário ou levar aquele imóvel a leilão.
Depois da promulgação do Código de Processo Civil, em março de 2016, esse prazo caiu para apenas um ano. Ou seja, aqueles condôminos que não se importavam muito em atrasar parcelas, agora estão tendo que arrumar um jeito de pagar essa dívida logo.
O advogado de condomínios Rodrigo Karpat mais que dobrou o número de funcionários da cobrança. De 2016 para cá, os acordos ficaram mais fáceis. “Os devedores têm nos procurado cada vez mais, porque eles estão muito assustados, porque eles podem perder o imóvel de forma muito mais rápida, muito mais célere”, explicou.
Segundo o Secovi, o Sindicato da Habitação, nos últimos 12 meses, o número de ações contra inadimplentes em São Paulo aumentou quase 130% em comparação com o mesmo período anterior. Bom para o condomínio, bom para os outros condôminos que têm que cobrir o rombo provocado pelos inadimplentes.
A síndica profissional Rita Rodorigo está rindo à toa. Ela mostra ao Jornal Nacional a reforma da fachada, que está sendo paga, em parte, com o dinheiro que passou a receber das dívidas em atraso. Diz que a inadimplência no prédio caiu 50%. “Estão achando bom, porque sobra dinheiro em caixa, os nossos fundos são recuperados então isso facilita bastante a qualquer tipo de reforma que tenha que fazer”, afirmou.